A temperatura de 37ºC em pleno inverno e um vento forte que levanta a poeira não são suficientes para desanimar os trabalhadores rurais de Campo Novo do Parecis, no interior de Mato Grosso. O município é o segundo maior produtor de grãos do Brasil, ficando atrás apenas da cidade de Sorriso no mesmo estado. O principal produto cultivado na região é a soja e logo em segundo lugar vem o de segunda safra.
Mesmo economizando em adubos e fertilizantes, porque faltou dinheiro para financiar a lavoura, safrinha de milho do Mato Grosso vai ser recorde este ano, com 6,75 milhões de toneladas, segundo levantamento da Conab, divulgado ontem. Sob sol escaldante, homens e máquinas trabalham para terminar a colheita que ainda deve se estender por 15 dias. A produtividade surpreendeu, teve muito agricultor colhendo de 90 a 100 sacas por hectare, enquanto a média do estado na última safra foi de 70 sacas por hectare.
Dentro da porteira tudo funcionando muito bem, mas nem assim os produtores de grãos da região cantro-oeste do Brasil tem o que comemorar. Com preço estimado em R$ 8,00 por saca e um custo de produção em torno de R$ 13,00, os produtores não sabem o que fazer com os bons resultados desta colheita.
— Esse daqui está indo direto para os armazéns da empresa — diz Ernesto de Godoy, gerente da Fazenda São Judas Tadeu. Com mais de 30 anos de experiência no agronegócio, 24 deles no Mato Grosso, o paranaense Erasmo diz que o Grupo Água Azul, dono da fazenda que ele administra vai esperar os preços melhorarem para vender o milho, porque R$ 8,00 por saca é bem pior do que o que a empresa previa para esta safra.
Os armazéns da empresa estão lotados, o Grupo Água Azul ainda nem terminou de vender a safra de soja colhida no verão e só entregou parte do milho que tinha sido comercializado antecipadamente para uma empresa de criação de frangos, o restante está guardado. Com a falta de espaço para armazenar os grãos a alternativa encontrada foi o SiloBag, uma espécie de bolsa gigante que serve para armazenar e conservar a qualidade dos grãos.
Silo Bolsa
O silobag pode ser deixado na lavoura mesmo e não ocupa muito espaço, mas o custo é considerado alto por muitos produtores. Cada bolsa tem capacidade para armazenar um volume equivalente a 2.500 sacas de 60Kg de milho, mas não pode ser reutilizada e serve apenas por uma safra. O custo da armazenagem em bolsa por saca chega a R$ 0,70 ou R$ 12,00 por tonelada.
Milho a céu aberto
Sem garantias de comercialização da safra e com preços que não cobrem nem os gastos com a produção, o agricultor ainda tem que desembolsar dinheiro para guardar o milho, isso se encontrar espaço. Os silos do Mato Grosso estão lotados e as empresas de armazenagem estão estocando até mesmo a céu aberto. Esta unidade tem 43 mil toneladas de milho estocadas, parou de receber os grãos há uma semana e mesmo assim acumula cinco mil toneladas de milho no chão. Sem sinais de compradores para o produto, a empresa corre para escoar a produção antes do período das chuvas.
— Nós temos um prazo para tirar esse produto daí. Nós temos de 30 a 40 dias antes do tempo de chuva — diz o diretor comercial de empresa de armazenagem, Jeferson Machado.
A chuva não é o único risco para o milho estocado a céu aberto. De acordo com o diretor do departamento técnico da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Mato Grosso (Famato), Luciano Gonçalves, o produto mal armazenado perde qualidade e preço.
— Com toda a certeza o milho perde em qualidade. A classificação desse produto não é a mesma e aumenta o custo de armazenamento, custo que vai parar na mão do produtor — explica.
O milho safrinha vai dar espaço para o plantio da soja e do arroz. Se a safra não for comercializada rapidamente, o problema de armazenagem vai se repetir nas próximas colheitas.
— Nós precisamos que o governo acelere o processo de realização de leilões para que a gente possa escoar a produção para outras regiões. Temos que abrir espaço para a nova safra e o mais importante: recuperar os preços do milho que hoje não oferecem rentabilidade ao produtor — alerta Gonçalves.
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